"Acabou a era das grandes estrelas da moda", prevê Marie Rucki em palestra (+ 13 conselhos para jovens estilistas)
Acabou a era das grandes estrelas à frente das marcas. Essa é a aposta de Marie Rucki, diretora do Studio Berçot, em Paris, que está em São Paulo fazendo um ciclo de palestras pela Escola São Paulo, com patrocínio da Kalimo.
Na quarta aula, apresentada nesta quinta-feira (21.07), Marie falou sobre o que faz a força - e a fraqueza - de grandes marcas do circuito internacional. E concluiu que é chegada a hora dos consultores - ou seja, estilistas que dão caminho às marcas, mas sem que seu nome seja mais forte do que a própria etiqueta. A declaração vem na cola da derrocada de nomes como John Galliano, recém-demitido da Dior e ex-aluno do Berçot, conhecido pela sua persona exótica.
"Para ser forte, uma marca precisa de uma enorme personalidade", afirmou. "Ou tem que recorrer a pessoas que tenham esse olhar aguçado, para fazer um trabalho de criação como consultores. Mas sem personalidades pessoais exageradas".
Em bela análise histórica, Marie explicou a situação atual de algumas marcas. Como a passagem deSophia Kokosalaki pela Madeleine Vionnet, que não conseguiu reforçar a imagem antiga da maison - "foi uma catástrofe, um desastre. Ela tem talenton, mas não se adaptou à Vionnet".
Outro exemplo foi a carreira de Olivier Theyskens, que passou pela Rochas e Nina Ricci e foi um fracasso comercial em ambas, apesar da sua forte imagem midiática. E da falta de força de Karl Lagerfeld, que é um sucesso à frente da Chanel e da Fendi, mas não tem uma marca registrada forte para aplicar à sua própria grife. E de Pierre Cardin(Estilista da Lady GaGa),que "se tornou uma piada".
No lado das marcas fortes, apareceram a Prada - através da sua coleção de verão 2011, que foi copiada mundo afora, num processo que Marie classifica como "positivo, exatamente pela força da marca" - aCéline pelas mãos de Phoebe Philo ("ela não está em busca de novidades, mas elimina tudo o que é inútil"), e a Carven, sua nova aposta, que ganhou o reforço este ano do francês low profile Guillaume Henry. "É uma moda que não é Céline, nem Marc Jacobs, nem Prada. É uma moda parisiense, como há muito não aparecia", definiu.
Outra citada foi a Kenzo, que vem tentando se reerguer há alguns anos e recentemente contratou a dupla por trás da rede Opening Ceremony, Humberto Leon e Carol Lim, como novos diretores criativos. Ou seja, como "consultores", como ela aposta para o futuro das grandes marcas de moda.
13 conselhos para jovens estilistas
Marie também manda um recado para os novatos que querem se jogar no mercado de moda. Anote os highlights:
. "Antes de se lançar como indivíduo independente, você tem que entender o mercado"
. "Um jovem estilista não vai viver do seu trabalho por um bom tempo, mas sobreviver"
. "Para ser interessante, tem que apresentar uma característica própria"
. "Não adianta ser ingênuo e se achar um gênio da moda"
. "Não se deve temer aprofundar um tema que se quer abordar"
. "Saiba o que você é capaz de fazer, e especialize-se nisso, encontre seu segmento. Nada mais errado do que uma marca que quer sobreviver fazendo de tudo"
. "Criação não quer dizer nada, tudo pode entrar numa criação. É pegar um universo e encaixá-lo dentro de outro. Sucesso é inventar uma nova realidade"
. "É preciso uma exigência implacável com o resultado que se quer atingir. Não estamos mais na época da quantidade, mas da qualidade"
. "As revoluções da moda já passaram, hoje é preciso trabalhar no refinamento e na criação do produto"
. "Não devemos acreditar no elogio, nem achar que a crítica vai acabar com você"
. "Observe tudo de uma forma sensível, mas não seja sensível demais"
. "Cerque-se de pessoas que dão conselhos e tenham um pouco de charme"
. "É preciso ser leve"